Dedada: levar ou não levar, eis a questão!
O medo do macho diante do toque
Xico Sá
Era chegada a hora. Com recomendação médica não se brinca.
Ai avexei-me para viver, na pele, a minha segunda experiência do gênero. Segura na mão de Deus e vai. Coragem, meu filho, coragem, pois a vida é luta renhida e viver é lutar.
A primeira vez, aos 40, havia sido tão rápida e indolor que resolvi, agora, quase oito verões depois, tirar a contraprova. Chegou a hora de, na margem do rio Piedra, como diz Paulo Coelho, sentar e llorar.
De lambuja, pensei, ainda sirvo de agente encorajador, num país de altos índices de morte de tal natureza, aos machos que tremem diante de um rápido dedinho de prosa nos seus indevassáveis fiofós. Este blog em pedagógica, repetida e aberta campanha contra o câncer de próstata. Vade retro.
Lá vamos nós, destemido cavaleiro e seu orgulhoso “Eu profundo e os outros Eus.” Fiz o anúncio em pleno boteco. Só para ouvir o velho repertório machista, repare no eco:
Pereira, amigo tão macho que usa dois sabonetes durante o banho -um para a frente e outro para a assepsia na retaguarda-, benzeu-se. “Nem morto, antes a fatal doença”, salivou, tragicamente, babando testosterona e pânico.
Separado da mulher da sua vida por causa de uma simples e civilizada tentativa de fio-terra, Pereira acha que não pode haver a mais remota comunicação, nem mesmo no banho -via sabonete-, entre as suas partes pudendas. “Começa assim a pouca-vergonha, na própria higiene pessoal”, apelou, enquanto estalava mais um torresmo no dente de ouro que encobre o canino.
Que se dane a retaguarda do atraso de Pereira. Chegou a nossa hora lá no consultório. Miro as mãos do amigo de branco... E confesso, leitores: não poderia ter escolhido, ao acaso, médico mais bem dotado nas suas falanges, falanginhas e falangetas. E feiçôes à Anthony Hopkins. Nuestra madrecita. Vixe! Ele pôs civilizadamente a luvinha. Esperei, resignado como um Cristo.
Só lembrei, ali, de novo, na bucha, da velha e surrada piada, na qual um médico indaga o cliente: “Sente-se alguma coisa?” Ao que a criatura alvejada solta um delicado sussuro: “Sinto que te amo!”.
Ora direis, nada de ver estrelas bilaquianas.
Sensaçãozinha de nada. Pena que tantos machos empedernidos morram por falta desse simples dedinho de prosa com a medicina.
“Volte sempre”, ainda se despediu o doutor. Também não carece exagerar, né, meu amigo?!
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