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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Confira a nova coluna de Dr. Hildebrando "FUI VÍTIMA DE “BULLYING”




Lamento profundamente que alguns jóvens desse País, ao invés de buscarem na escola a edificação de um futuro de glórias e conquistas, enveredem por práticas horrendas que nos remonta a idade da pedra lascada;
O “bullying consiste numa violência tão grotesca, que só não diria animalesca, em respeito aos bichos da selva que não ousam praticá-lo;
E eu posso seguramente testemunhar a dor sentida por quem padece desses atos tresloucados, porque durante vários anos da minha vida escolar fui uma de suas vítimas, tendo sofrido todo tipo de humilhação que uma pessoa possa suportar, tanto dor física como moral;
Tudo começou talvez pelo fato de na época eu ser muito recatado, por ter nascido na roça e até então continuar residindo na zona rural, donde todos os dias após labutar na lavoura pela manhã, à tarde vinha a pé, percorrendo uma distância de aproximadamente três quilômetros para estudar na cidade, eu e minha irmã, Joana Darc Diniz;
Naquele tempo havia muita discriminação com quem era do sítio, chamavam de “Beradeiro” , matuto, arigó de pé de serra, pé rachado e pé rapado.
E sendo agricultor, então, a coisa piorava. Eu tinha outro problema; era muito magro, alto e minha pele era bastante queimada do sol, numa época em que a pessoa só era bonita se fosse gorda e tivesse a cor sentada, como chamavam.
Eu nunca fui vaidoso, e nem tinha como, porque era pobre e sofrido demais. Porém, todo mundo sabe que adolescente deixa de sair na rua até por causa de uma espinha no rosto. Eu apesar de nunca ter sido preocupado com beleza física, no entanto, e obviamente, também passei pela fase dos complexos com a aparência.
Pois, bem. Por ser magro, alto, trabalhar na agricultora e morar na zona rural, eu me sentia fora dos padrões daquela sociedade e era complexado.
E talvez, aproveitando-se dessa fragilidade que eu inevitavelmente, deixava transparecer, alguns “colegas” malvados, começaram a apelidar-me. Inicialmente fizeram o mesmo com minha irmã e companheira inseparável. Por sinal, éramos colegas de classe.
Sendo que ela conseguiu tirar de letra esses insultos, porque sempre foi mais forte que eu, determinada e valente;
Quanto a mim, as humilhações na escola continuaram por uns quatro ou cinco anos e foi imenso o meu sofrimento. Se agora revelo ao mundo o drama que sofri, não é só por desabafo, mas, principalmente, para chamar a atenção das autoridades escolares para um problema tão sério.
E era assim: Na hora do recreio, além de não ter dinheiro para comprar um lanche como fazia a grande maioria dos estudantes daquele educandário, eu saía da classe só para assistir “os ricos” lancharem e ainda me xingarem;
Diante daquele problema, eu me sentia indefeso, não tinha a quem reclamar. Alguns desses agressores, após suas cessões de tortura, que iam de apelido, vaia e discriminações as mais diversas, como: ser taxado de matuto, de feio e pobre, ameaçavam-me ainda de espancamento na saída do colégio, caso eu ousasse denunciá-los.
E tudo podia acontecer mesmo, porque eu era um farrapo de gente, um desvalido, um tímido ao extremo, sem amigos, sem conhecidos, um pobre matuto mesmo. Enquanto eles, muitos dos quais, “filhos de papais” e que só andavam enturmados. Podiam até matar-me se eu ousasse enfrentá-los, assim eu pensava;
Dentre tantos agressores, lembro-me bem de um tal de “Jonas”, que nunca mais o vi, Graças a Deus e gostaria de não reencontrá-lo. Esse era um dos mais exibidos e se apresentava tão cruel que me furava com caneta esferográfica, a ponto de formar-se uma ferida no local, que quando sarava ficava a cicatriz;
Porém, cicatrizes maiores ficariam com certeza gravadas no pobre coração daquele menino tolo e ingênuo, marcando a sua vida para todo o sempre;
Acuado com tanto sofrimento, silenciosamente, tomei uma decisão. Daquele dia em diante, não sairia mais para o recreio. Ficaria sozinho na classe, enquanto os outros se divertiam e lanchavam na cantina do colégio;
Quando tocava para o intervalo, todos saiam e só eu ficava na sala de aula tentando mascarar a minha imensa dor. Contudo, aproveitava aqueles momentos de solidão e tristeza, para me dedicar aos estudos e revisar as matérias escolares;
Foi aí que comecei a me sentir estimulado pela leitura, e que passei a galgar melhores notas. Aos poucos fui conquistando território e impondo moral, adquirindo fama de inteligente, o que me obrigava a estudar com mais dedicação e afinco, também em casa, nos raros momentos que tinha folga dos trabalhos campesinos, principalmente a noite no claro da lamparina;
Em pouco tempo, comecei a me destacar em algumas disciplinas que representavam o terror para a grande maioria dos alunos daquele educandário, como matemática, física, etc;
Passei então a ser “notado”. O “beradeiro” agora era tido como sabichão. Era aluno sabido, nota dez, um dos primeiros da classe. E exatamente por isso era disputado pela turma na hora de fazer um trabalho de equipe, ao contrário do que acontecia antes, quando normalmente por falta de convite, ou por pura rejeição, eu fazia meus trabalhos de equipe, sozinho ou com minha irmã;
O certo é que aquela fama de aluno bom e inteligente foi se espalhando pelo colégio e aos poucos todo mundo passou a me respeitar.
Conclui-se, portanto, que foi nos sábios ensinamentos dos livros e na minha enorme força de vontade que encontrei a saída daquele calvário. E assim como Santos Dumont criou o relógio de pulso, casualmente, quando estudava para fazer o avião, eu me dediquei aos estudos tentando me livrar daquelas agressões e Graças a Deus, acabei encontrando a fórmula do meu modesto sucesso;
Hoje, muito tempo depois, me deparo nas ruas ou tenho recebido no escritório, alguns desses “ex colegas”. Deles, já desdentados, envelhecidos, surrados pelo tempo e que infelizmente, nada de importante conseguiram galgar na vida.
Não vou pensar que foram castigados pelas dores que me causaram, nem gostaria que fossem. No entanto, tenho chegado a conclusão, que aluno bagunceiro, malvado e endiabrado, dificilmente tem êxito na sua trajetória.
Porque a escola é lugar para aprender a ser gente, já que tem algumas pessoas que nascem mulas. E se nem ali eles conseguem essa metamorfose, o final é trágico porque o mundo não perdoa aqueles que não se enquadram nas suas leis;
Desse modo, posso afirmar com segurança que não guardo rancor de ninguém, contudo, não posso mentir e dizer que tenho saudade daqueles moleques vagabundos da minha escola.
Por outro lado, morro de pena daquele pobre menino desgarrado que durante muito tempo se sentiu um lixo e sem poder ostentar qualquer reação;
Todavia, lembro-me que estudava na minha classe, uma menina-môça de nome, Ana Maria, filha da professora Vanda. Essa professora nos ensinava Educação artística e parece que em casa também ensinou“educação” a sua filha;
Nesse tempo um professor ganhava bem e tinha status de autoridade, o que realmente é até hoje, embora muitos não queiram reconhecer. Ana Maria era uma daquelas colegas consideradas ricas por todos na escola. Ela também fazia parte do festival de lanches da cantina do Colégio.
Por sinal, costumava pagar merenda para todo mundo. Algumas vezes até me oferecia e eu de tolo não aceitava, mesmo faminto e morto de desejo de comer tudo o que ali se encontrava á venda. Mas, tinha vergonha dela e de todos, era “beradeiro”mesmo!.
Em um dado momento, essa menina resolveu sair em minha defesa e confesso foi muito importante para mim. Ao seu lado eu estava protegido, ela era blindada, ninguém ousava me chatear na sua presença que ela ficava valente, saía até aos murros se fosse necessário, pois, era gordinha, comia bastante merenda e acho que por isso tinha muita força;
Alguns desses “colegas”, que viviam só de infernizar a minha vida, ficavam pasmos sem entender a postura daquela menina da alta sociedade, defendendo com unhas e dentes, um pobre “beradeiro” e discriminado por quase todos;
Para intrigá-la e talvez tentando fazer com que desistisse de me apoiar, alguns, fofocando insinuavam que ela estaria apaixonada por mim, pois nessa época eu já contava com a idade de treze ou quatorze anos. Eu tinha era uma vergonha danada dela, quando falavam nesse assunto.
Na verdade, a menina era muita carinhosa comigo. É claro que em troca eu lhe dava algumas “colas”, por ocasião das provas. No entanto, eu particularmente acho que o seu sentimento por mim era de pena e solidariedade. O meu nível social era muito inferior ao dela. Ela filha de uma professora que tinha “status”, carro novo, casa própria; eu um matuto de mãos e pés calejados e filho de agricultor;
O certo é que, muitos anos já se passaram, mas, daquele tempo não guardo boas lembranças. E gostaria que Deus me poupasse de reencontrar na vida, pessoas do tipo “Jonas”, aquele moleque malvado e feio; magricela e pintado, como Chiquinha do “Chaves” com catapora;
Quanto a Ana Maria, minha Santa Ana Maria protetora, da qual nunca mais tive notícias... Dessa sim, eu guardo doces recordações e carinhosamente mantenho-a tatuada no âmago do meu ser... Como eu gostaria de vê-la novamente! Queria dar-lhe um abraço de gratidão e dizer-lhe muito obrigado! Você foi o meu Anjo bom!
Catolé do Rocha-PB, 27 de Junho de 2011.
HILDEBRANDO DINIZ ARAUJO

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